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Dia Internacional da Luta contra a Endometriose - Confira entrevista exclusiva com médico especialista no tema

Hipertensão não controlada gera maior risco de demência! Saiba mais sobre o tema com entrevista exclusiva

No Dia Internacional da Luta contra a Endometriose, celebrado neste sábado (07/05), a PROMED convidou o médico ginecologista William Kondo, especialista em cirurgia ginecológica minimamente invasiva, com enfoque em endometriose, para trazer mais informações sobre o assunto.

A endometriose atinge cerca de 10% a 15% das mulheres em idade de reprodução (dos 15 aos 45 anos), segundo a Associação Brasileira de Endometriose. Por isso, é importante compartilhar informações sobre a doença para que cada vez mais mulheres percebam a possiblidade da doença e busquem o tratamento adequado.

Leia abaixo a entrevista na íntegra:

PROMED: Como ocorre a endometriose?

William Kondo: A endometriose é uma doença inflamatória crônica que consiste do implante de tecido semelhante ao endométrio (endométrio = tecido que reveste internamente a cavidade uterina) fora da cavidade uterina. Este tecido ectópico (fora do local correto) pode estar no músculo do útero (adenomiose), no ovário formando cistos (endometriomas) ou infiltrando o peritônio (endometriose superficial ou peritoneal) ou profundamente em outras estruturas da pelve (endometriose profunda).

Este tecido ectópico semelhante ao endométrio responde aos estímulos hormonais da mesma forma que o endométrio localizado na cavidade uterina; ou seja, prolifera e descama na forma de sangramento durante o período menstrual. O sangramento no tecido ectópico cria um processo inflamatório no tecido ou órgão acometido, que ocorre todos os meses. Este processo inflamatório repetido durante vários meses ao longo da vida da mulher faz com que a doença aumente progressivamente. Os sintomas dolorosos e a infertilidade associados à endometriose são decorrentes deste processo inflamatório crônico.

2 - Quais são as possíveis causas da endometriose?

William Kondo: O principal fator é a predisposição genética individual de cada mulher de apresentar a doença. Isto, associado ao estímulo hormonal que inicia com a primeira menstruação (menarca), aos fatores ambientais inflamatórios (poluição, hábitos de vida, alimentação, etc.) e ao uso ou não de hormônios para controle (diminuição ou bloqueio) da menstruação faz com que tal pessoa venha a desenvolver a doença (teoria epigenética).

A teoria da menstruação retrógrada se refere à presença de refluxo da menstruação através das trompas em direção à cavidade abdominal. Células endometriais viáveis seriam levadas juntamente com a menstruação retrógrada e se implantariam dentro do abdome. No entanto, mais de 90% das mulheres apresenta menstruação retrógada, o que faz pensar que existem outros mecanismos associados para a gênese da doença.

Segundo a teoria imunológica, as mulheres portadoras de endometriose teriam alterações na sua imunidade humoral e celular, o que levaria à não destruição das células endometriais localizadas na cavidade abdominal.

Além dessas teorias supracitadas, existem outras teorias que tentam explicar essa doença complexa que ainda não tem sua fisiopatologia completamente elucidada.

3 - Quais sinais e sintomas devem ser observados?

William Kondo: Os principais sintomas são relacionados à dor e à infertilidade (dificuldade para engravidar). SÃO OS 6 d`s DA ENDOMETRIOSE

Os sintomas dolorosos incluem:

- Dismenorreia (dor no período menstrual);

- Dispareunia (dor durante a relação sexual);

- Dor pélvica crônica (dor fora do período menstrual com duração superior a 3 a 6 meses)

- Dor urinária no período menstrual (aumento de frequência urinária, dor para urinar, sintomas semelhantes a infecção urinária);

- Dor intestinal no período menstrual (disquezia = dor para evacuar, tenesmo = vontade intensa de evacuar, com sensação de esvaziamento incompleto do intestino, aumento da frequência intestinal);

A dificuldade para engravidar (infertilidade) consiste do casal que está tentando engravidar há mais de 1 ano sem sucesso.

4 - Existem fatores de risco a serem observados?

William Kondo: Os fatores de risco habitualmente envolvem:

- História familiar;

- Menarca (primeira menstruação) precoce;

- Malformações uterinas (que dificultem ou bloqueiem a saída normal do sangue menstrual);

- Ciclos menstruais mais curtos (maior número de menstruações);

- Duração prolongada do fluxo menstrual;

- Estenose (estreitamento) do canal cervical uterino;

- Índice de massa corporal(IMC) baixo;

- Gestação tardia;

- Nuliparidade.

5 - Qual a melhor forma de prevenção à doença?

William Kondo: Na realidade não existe exatamente uma forma de prevenção da doença. Hábitos de vida saudáveis, como alimentação menos inflamatória, prática de exercícios físicos, redução do stress, criam um ambiente menos "inflamado", o que pode eventualmente reduzir a progressão da doença ou diminuir a sintomatologia. O uso de anticoncepcionais com bloqueio menstrual pode reduzir os sintomas da doença de forma importante. O bloqueio da ovulação com uso de anticoncepcionais pode evitar ou diminuir o aparecimento de cistos de endometriose no ovário.

No entanto, normalmente as mulheres que têm a tendência de desenvolver endometriose irão desenvolver a doença independentemente de qualquer medida tomada.

Desta forma, a melhor forma de "prevenir" a doença seria identificar as mulheres com chances potenciais de desenvolver a doença, realizar o diagnóstico precoce e tratar precocemente os sintomas para que as dores não se intensifiquem.

6 - Como deve ser feito o diagnóstico da doença?

William Kondo: O diagnóstico da doença é realizado baseado nos sintomas apresentados pelas pacientes. Os exames de imagem (ultrassom transvaginal e trans abdominal com preparo intestinal ou a ressonância de pelve e abdome) têm um papel fundamental no diagnóstico da doença, mas apenas para adenomiose, endometrioma e endometriose profunda. A endometriose superficial não é identificada por nenhum método de imagem ou exame laboratorial e apenas uma cirurgia laparoscópica diagnóstica tem a possibilidade de identificar a endometriose superficial.

Com relação ao exame de imagem, este deve ser realizado por profissional radiologista ou ginecologista com experiência no diagnóstico da doença, pois se trata de exame de maior complexidade e a experiência do examinador é diretamente relacionada à acurácia diagnóstica do método utilizado.

7 - Engravidar mais tarde pode predispor a endometriose?

William Kondo: Sim, uma vez que o fato de engravidar mais cedo e mais vezes faz com que haja menor exposição a menstruações. Como a menstruação é um dos fatores importantes relacionados ao estímulo inflamatório que leva à progressão da doença, é fácil entender que quando a mulher menstrua menos, em teoria, tem uma tendência menor de desenvolver a doença.

8 - E usar pílula anticoncepcional, aumenta o risco? Pode ser hereditária? Familiar? Usar DIU hormonal é melhor ou pior para prevenir ou para o tratamento?

William Kondo: Na realidade o uso de anticoncepcional não aumenta o risco de ter endometriose. O que ocorre de forma geral é que o anticoncepcional é uma opção de tratamento para os sintomas dolorosos da endometriose. As mulheres que usam anticoncepcionais para tratamento de cólicas e têm boa resposta, podem ter seus sintomas tratados e ao mesmo tempo "mascarados" pelo fato de estar usando a medicação. No entanto, o fato de a mulher estar usando anticoncepcional não necessariamente impede que a doença possa aumentar. De modo que uma parte das mulheres que está em uso de anticoncepcional e tem endometriose pode apresentar progressão assintomática da doença. Desta forma, é muito importante que toda mulher que tem muita sintomatologia dolorosa na adolescência ou na vida adulta jovem e que começa a usar anticoncepcional para o tratamento da cólica menstrual realize anualmente um exame de imagem para investigação da endometriose para que se possa diagnosticar os casos em que a progressão da doença vai ocorrer.

O uso do DIU hormonal é uma opção de tratamento para cólicas menstruais. Ele pode ter efeito semelhante aos outros anticoncepcionais e vai depender da adaptação individual de cada pessoa. A única coisa importante do DIU hormonal é que ele não bloqueia a ovulação em boa parte das usuárias. Desta forma, não é uma boa opção de tratamento para os endometriomas ovarianos.

Existe uma tendência genética / hereditária da endometriose sim. Habitualmente, as mulheres com parentes de primeiro grau com endometriose têm pelo menos 7 a 8 vezes mais chances de ter endometriose do que outras mulheres.

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