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Fevereiro Roxo - Especialistas falam sobre a importância do diagnóstico precoce do Alzheimer, lúpus e fibromialgia
Alzheimer, lúpus e fibromialgia. O que essas doenças têm em comum? Aparentemente nada, mas as três não têm cura conhecida pela medicina e todas são tema da campanha Fevereiro Roxo, criada para conscientizar a população sobre essas patologias. Dessa forma, a campanha tem como propósito disseminar informações, como sintomas e tratamentos, e reforçar que o diagnóstico precoce ajuda a manter a qualidade de vida.
Para falar sobre o tema, a PROMED entrevistou as médicas Viviane Flumignan Zétola (CRM 11898), neurologista e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e Andrieli Mehl (CRM 27690), reumatologista no Instituto de Oncologia do Paraná (IOP).
PROMED - Qual a importância em se falar sobre o Fevereiro Roxo?
Viviane Flumignan Zétola - A conscientização sobre doenças prevalentes na população é sempre crucial para que medidas preventivas, terapêuticas ou de suporte sejam tomadas. Fevereiro Roxo inclui a demência de Alzheimer, uma doença prevalente principalmente pelo aumento da longevidade que temos atingido com o avanço médico. Aproximadamente 25% das pessoas na faixa etária de 85 anos serão acometidas. O reconhecimento precoce, as medidas para manutenção da qualidade de vida é a grande diferença no cuidado.
PROMED - Como a doença de Alzheimer se caracteriza?
Viviane Flumignan Zétola - O Alzheimer é uma doença neurológica degenerativa caracterizada pelo acúmulo de proteínas anormais no cérebro, causando disfunção em sinapses e morte de neurônios. Aproximadamente 85% dos pacientes têm perda de memória como manifestação inicial. A doença afeta as lembranças de fatos recentes, esquecendo rotinas, compromissos, senhas, aniversários... Em 15% das vezes a manifestação pode iniciar com mudanças de comportamento como apatia, perda de iniciativa e de interesse geral, além de casos de agitação, agressividade e alucinações. A intensidade é suficiente para gradualmente prejudicar a autonomia de uma pessoa. A frequência de demência a partir dos 65 anos de idade dobra aproximadamente a cada 05 anos, e cerca de 50-60% dos casos de demência são secundários da doença de Alzheimer. Com 80 ou 90 anos a proporção de pacientes é significativa. Há outros tipos de demência e a avaliação médica é essencial para o diagnóstico.
PROMED - Quais os sinais da fibromialgia e cuidados necessários para o paciente?
Andrieli Mehl - A fibromialgia é caracterizada por um quadro de dores difusas - acometendo mais do que uma região do corpo (são dores musculares, articulares, abdominais, cefaleia, dor pélvica crônica), acompanhadas por um ou mais dos sintomas a seguir: fadiga, alteração de humor (ansiedade, depressão), distúrbio do sono (insônia, sono não reparador), alterações intestinais como síndrome do intestino irritável, entre outros. É uma condição decorrente de uma disfunção no sistema de percepção e processamento da dor, que gera amplificação dolorosa.
O mais importante é ser avaliado pelo médico reumatologista e ao ser feito o diagnóstico, compreender que não se trata de inflamação em todo o corpo ou de uma doença degenerativa e sim de uma disfunção nos sistemas que controlam nossa percepção à dor. Uma vez diagnosticada, a atividade física é a terapia de maior benefício para o tratamento e deve ser regular e de progressão lenta. Quando há distúrbios de sono e humor, podem ser prescritas medicações que possam auxiliar no equilíbrio e melhor funcionamento desses três pilares: sono, humor e dor. A psicologia com terapia cognitivo-comportamental, e a psiquiatria, além do fisioterapeuta e educador físico, são as especialidades que podem trabalhar em conjunto com o reumatologista no melhor manejo da fibromialgia, conforme necessidade de cada paciente.
PROMED - Quais as causas do lúpus e como o dia a dia do paciente é afetado?
Andrieli Mehl - Lúpus é uma doença autoimune crônica, caracterizada por períodos de flare (ativação) e remissão. As doenças autoimunes compartilham entre si o seu aparecimento devido a uma junção de fatores genéticos e ambientais. Dentre os ambientais, podemos citar infecções virais, exposição solar e fatores hormonais. Quando se tem a predisposição genética - herdada ou não - e se é exposto a algum desses fatores ambientais, pode ser iniciado um processo de ataque às estruturas do próprio corpo (que passam a ser reconhecidas como estranhas) e desenvolvimento da autoimunidade. No caso do lúpus, esse reconhecimento de partículas presentes no núcleo das células pode ocorrer em diferentes órgãos e sistemas e por isso os sintomas são variados entre os pacientes.
Assim, o dia a dia do paciente com lúpus que esteja com doença ativa é afetado de acordo com o órgão/tecido acometido (pele, articulações, pulmões, rins, cérebro, nervos, células do sangue), em forma menos ou mais grave, variando desde lesões de pele extensas ou não, a limitação de mobilidade por artrite, alterações cognitivas, falta de ar, sangramentos... Não só a atividade do lúpus interfere no dia a dia do paciente, mas também o tratamento. Quanto mais grave for a doença, mais fortes serão os medicamentos imunossupressores usados, com efeitos colaterais gastrointestinais e maior risco de infecções, por exemplo. É muito importante o paciente entender qual a gravidade do seu lúpus, quais sequelas pode ter se não controlado, para então melhor aderir ao tratamento e conseguir controlar a atividade da doença o mais rápido possível. Passando a fase de maior atividade, é reduzida a dose ou trocada a terapia por medicações com menos efeitos colaterais. Pensando em medidas para reduzir o número de flares (ativação) da doença, deve-se cuidar para que o sistema imune esteja o mais regulado possível! Como fazer isso? Boa aderência ao tratamento, seguir acompanhamento clínico e com os exames periódicos com o reumatologista para detectar alterações, mesmo que pequenas, já no início quando são mais fáceis de serem controladas, além de alimentação saudável, atividade física, medidas de controle do estresse (bom sono, cuidados com a mente) e fotoproteção! Sim, a fotoproteção (uso de proteção solar) é importantíssima porque o sol ajuda a expor partículas do núcleo das nossas células que estimularão a ativação autoimune nos pacientes que têm lúpus.
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